quinta-feira, abril 26, 2007

Em Casa que até fantasma trabalha, não tem lugar para concursados?

Laranjas
MP denuncia Samuel
Ex-presidente da Assembléia, dois irmãos e sobrinho são acusados de formar quadrilha para contratar funcionários fantasmas


26/04/2007 Bruno Rocha Lima
Da editoria de Política & Justiça

O Ministério Público Estadual ofereceu ontem denúncia ao Tribunal de Justiça do Estado contra o deputado Samuel Almeida (PSDB), ex-presidente da Assembléia Legislativa, sob a acusação de peculato e formação de quadrilha. A denúncia, assinada pelo procurador-geral de Justiça, Eduardo Abdon Moura, também envolve dois irmãos do tucano, pastor Abigail Carlos de Almeida Filho e Loyde Vargas Vieira, o sobrinho Wendell Carlos de Sousa Almeida, filho de Abigail, e um motorista da família, Alcidiney Costa Rocha. A representação do MP é baseada em inquérito da Polícia Civil que acusa o grupo de desviar dinheiro público por meio da contratação de funcionários fantasmas na Assembléia.

Samuel não foi encontrado pelo DM para falar sobre o caso. Segundo sua assessoria, o deputado pediu ao MP uma cópia da denúncia oferecida ao TJ e só após tomar conhecimento do conteúdo do documento irá se pronunciar. A assessoria do tucano afirmou também que ele irá consultar seu advogado, antes de dar qualquer declaração. O deputado atravessou momentos conturbados no início do mês com o vazamento de um relatório que apontava supostos gastos excessivos e irregularidades durante sua gestão como chefe do Legislativo goiano. Após o escândalo causado pelo levantamento, feito a pedido da atual Mesa Diretora da Casa, o presidente Jardel Sebba (PSDB) optou por desclassificar o conteúdo do documento e minimizar os atritos com seu antecessor.

Fantasmas – De acordo com o inquérito da Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública da Polícia Civil, em 2005 Samuel nomeou 12 assessores especiais na presidência da Assembléia indicados por Abigail, ex-diretor financeiro da Casa, que serviam de laranjas para o suposto esquema de corrupção. Esses funcionários, a maioria ligados à família ou à Igreja Assembléia de Deus do Setor Balneário Meia Ponte, na qual Abigail e Wendell são pastores, receberam durante oito meses (de março a novembro de 2005) salários entre R$ 3,5 mil e R$ 7,5 mil sem prestarem serviço à Assembléia. O esquema teria gerado um prejuízo de R$ 500 mil aos cofres públicos.

Segundo a Polícia Civil, no dia do pagamento, os servidores eram levados por Alcidiney Costa às agências bancárias, onde efetuavam o saque e entregavam as quantias ao motorista, que repassava para Wendell ou Abigail. Em algumas ocasiões, os servidores passavam os valores diretamente aos denunciados. De posse dos cartões magnéticos dos funcionários, os acusados chegaram a efetuar saques diretamente das contas em que eram depositados os salários. O dinheiro também chegava às mãos do grupo através de doações à Igreja Assembléia de Deus em que atuam Abigail e Wendell. A irmã de Samuel, Loyde Vargas Vieira, é acusada de aliciar algumas das pessoas que participaram do esquema.

O Ministério Público preferiu não oferecer denúncia contra os 12 servidores que teriam agido como laranjas do grupo.

No entendimento do MP, a participação direta deles no esquema não está completamente comprovada e, em alguns casos, teriam sido apenas usados como instrumentos para o esquema de desvio de dinheiro.

Outro sobrinho de Samuel, Weuller Carlos de Sousa Almeida, acusado no inquérito da Polícia Civil de usar uma empregada como laranja para alugar uma ambulância à Secretaria Estadual de Saúde, também não foi incluído na denúncia, por não ter ligação com o crime cometido na Assembléia.

O inquérito da Polícia Civil, instaurado em 2 de janeiro de 2006, foi baseado em denúncia anônima através de uma carta repleta de referências religiosas. Na época, os denunciantes apelidaram a operação de Sodoma e Gomorra, em referência às cidades bíblicas que Deus destruiu com uma chuva de enxofre por causa da promiscuidade reinante entre seus cidadãos. Um dia após a abertura do inquérito, o então presidente da Assembléia exonerou três assessores especiais da presidência acusados de envolvimento no esquema: Abigail e o casal Jonatas Moura Reis e Cristina Lima Moura Reis, indicados para o cargo pelo próprio irmão do ex-presidente. Samuel também abriu sindicância interna para apurar os fatos e alegou desconhecer completamente o suposto esquema de corrupção.
Fonte: Jornal Diário da Manhã

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